Eu poderia dizer o que quero, mas simplesmente não consigo, minha vida parece uma mentira esfarrapada, contada por um garoto de 10 anos, as palavras não saem da boca, ficam aprisionadas na cabeça, que de repente explode. Eu poderia dizer que te espero todas as noites na solidão da minha cama redonda, olhando para o espelho às três da manhã, mas você me esquece até que todas os bons e boas amantes da noite tenham ido embora, então eu apenas tento dormir o sono dos justos e me preparar para a melancolia do dia seguinte. Eu poderia aceitar, resignado, minha sina, minha casta, mas não, eu te procuro todos os dias, todas as noites como a criança que procura sua mãe no meio da multidão, entro em pânico, engulo o choro e disfarço o nariz vermelho, e continuo rumo à escuridão que envolve as pessoas, corro em direção ao desconhecido. Poderia me expressar, mas meu corpo rejeita essa idéia, ela segue a regra dos canalhas, frios como o gelo que queima sua mão e aparentemente sem sentimentos, eu escuto seus desabafos, calado, esperando o momento certo para atacar minha presa de maneira tão fatal, que você me acolha em seus peitos e eu finalmente possa arrancar seu coração. Eu poderia amar você, casar você, vamos lá, vamos experimentar essa vida de casal inútil, vamos ter nossos filhos, e fingir que vivemos a ‘american way of life’ for a bit, até que cheguemos aos quarenta e percebamos que nossos filhos já fazem sexo com treze anos e fumam cigarros (nem mesmo maconha, que já vai ser legalizada e não acaba com os dentes eles vão usar!) e quão deprimente é a nossa vida social quanto sexual, ambos tentando forjar uma idéia de casamento perfeito enquanto nosso amor vai sendo torturado por um sado masoquista chamado tempo (ainda somos os mesmo e vivemos...). Quem sabe eu poderia ganhar minha liberdade, me soltar finalmente de você e sair livre por ai, viver minha vida e parar de viver a sua, e finalmente cortar as cordas da paixão que controlam este inútil boneco para sempre.
Alberto Mateus Sábato Sousa - Alberto Desking
quinta-feira, 4 de junho de 2009
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